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História e Imaginário na Catu do "Ouro Negro"

18-12-2011 21:17
As informações que chegaram até nós sobre da história de Catu está cheia de mitos e do imaginário popular. Nela existem dois protagonistas coletivos que teriam fundado os primeiros aldeamentos catuenses: os “bravos” e “aguerridos” índios pataxós e os colonizadores portugueses detentores da fé cristã em Santana. Com efeito, dos índios – se é que estiveram mesmo por aqui –, só sobraram os nomes de origem indígenas, como por exemplo, o próprio nome da cidade. Do colonizador, assim como em todo o Brasil, legou-se a cultura dominante influenciada pelos europeus.

Desse mito de origem da cidade, não resta espaço, por exemplo, para a cultura africana embora ela tenha sido determinante na fundação e desenvolvimento da cidade (vale lembrar, como escravizados, obrigados a trabalhar nas lavouras de cana).

Contudo, outra representação de Catu presente no imaginário baiano e brasileiro, é que aqui é ou teria sido a cidade do petróleo. A revista do centenário da cidade, publicada em ocasião do seu aniversário no ano de 1968, nos trás um mapa da Bahia perpassada por uma grande tubulação petrolífera. A revista nos trás também muitas informações sobre a cidade do “ouro negro”. A esse respeito, são expostos vários dados desde o quantitativo da arrecadação municipal, no qual é notório a enorme e crescente parcela de contribuição da economia petrolífera. Até mesmo na coluna dedicada aos “atrativos turísticos locais” é indicada a estação [petrolífera] de Santiago como referência para os nossos visitantes.

Na Enciclopédia brasileira dos municípios, publicada ainda no ano de 1958, a verbete sobre Catu, nos trás algumas informações que reforçam esse esforço da elite local, quando afirma que: “A principal atividade econômica local é a extração petrolífera pela Petrobrás, que conta com mais de duas dezenas de poços em atividade, ocupando considerável número de trabalhadores. A produção de petróleo bruto, em 1955, foi de 13.152 barris de 159 litros, em 1956 atingiu a considerável cifra de 1.110.767 barris, números esses já superados no primeiro semestre de 1957, com... 1.206.851”. (COSTA, Julio da Cunha. Inspetoria Municipal de Estatística [de Catu]. In: Enciclopédia dos Municípios brasileiros. Vol. XX, IHGB, Rio de Janeiro, 1958 p. 157).

 

Vale lembrar que as décadas de 1950 e 1960, são cruciais para a economia catuense, pois desde o declínio da economia escravista, pautada da produção de cana a economia local havia entrado num duradouro processo de estagnação econômica.

De fato, os números apresentados pelo informante da enciclopédia são bastante expressivos e não deixam dúvidas quanto a “vocação” catuense para a indústria petrolífera. Mesmo que o artigo ainda liste outras pequenas fontes de renda, as fotos e imagens não deixam dúvidas. A idéia era passar a imagem de uma Catu próspera, prosperidade trazida pelo famoso e cobiçado ouro negro. Mas, ao que parece, essa prosperidade não alcançava a maior parte da população, nem propiciava o desenvolvimento do bem público, nem repercutia positivamente nos outros setores da economia...


Percebe-se, contudo, o enorme esforço para “vender” a idéia do município de Catu como a cidade do Petróleo e, por conseguinte, uma cidade que abandonara a tradição em nome a modernidade da indústria petrolífera. Dessa forma, a antiga e tradicional cidade dos barões, escravos, do fumo e, principalmente, do açúcar, teve a sua imagem, em meados do século XX, substituída de uma terra com um passado “brilhante”, para uma “rica” e “próspera” cidade petrolífera. Isso pelo menos no imaginário popular local e regional. 


Cabe destacar ainda que em detrimento de uma única atividade, não se planejou, nem projetou, de maneira sólida, nenhuma alternativa econômica no decorrer dos anos até a atualidade.

 

Marcelo Souza Oliveira é Doutorando em 
História Social pela UFBA e professor do Instituto 
Federal Baiano, Campus Catu. 

 

Figura 1 - Foto tenta demonstrar a "força natural" do Petróleo catuense 
(Fonte: Enciclopédia dos municípios brasileiros, 1958. p. 155).

Figura 2 - Petróleo jorra "naturalmente" nas terras catuenses. 
(Fonte: Enciclopédia dos municípios brasileiros, 1958. p. 157).

 

Fonte: https://retratosdecatu.blogspot.com/2009/12/historia-e-imaginario-na-catu-do-ouro.html

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